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Minas Gerais sofre com pior crise hídrica dos últimos 100 anos e mais de 90 municípios fazem racionamento

São cerca de dois milhões de consumidores desabastecidos. Por causa desse cenário, a captação de água direto nos rios, como o São Francisco, aumentou.

A pior crise hídrica dos últimos 100 anos em Minas Gerais tem levado a um aumento na captação de água direta do Rio Francisco. Só que a solução pode levar a um assoreamento do Velho Chico. Com mais de 2.800 km de extensão, o rio atinge 12 milhões de pessoas em cinco estados. Em Minas Gerais, o Norte do estado tem sido castigado pela falta de chuva. A barragem de Juramento, que abastece cidades da região, está com apenas um quinto da capacidade total de armazenamento. Para o fundador do projeto Manuelzão, que monitora as condições de exploração do Rio São Francisco, Apolo Heringer Lisboa, a captação desenfreada no rio feita também pela mineração e agronegócio são preocupantes.

“A retirada de água da mineração, rebaixamento do lençol para poder minerar em uma cava de 400 metros. E tudo isso está secando a região toda. O consumo humano é em torno de 10% só do volume de água retirada da natureza. O agronegócio é em torno de 70%, no mínimo”, explica.

Os sedimentos despejados no leito do Rio São Francisco – como esgoto e rejeitos industriais – são outro problema crônico. A chuva inicial do mês de outubro ainda é insuficiente para tirar mais de 90 municípios e 2 milhões de consumidores do racionamento. No curto prazo, pouco pode ser feito, segundo a Companhia de Saneamento de Minas Gerais. A Copasa fará obras criticadas e até contestadas na justiça por entidades ambientais. A empresa vai construir uma adutora de 146 km de extensão, justamente para captar água no Velho Chico, na cidade de Ibiaí. Mas para Marcus Polignano, o resultado de uma ação similar, na Bahia, mostrou o tamanho do problema que pode ser criado.

“Nós temos 23 milhões de sedimentos indo para dentro do São Francisco. Isso é quase uma barragem da Samarco por ano entrando para dentro do rio. Não tem rio que sobrevive a uma lógica dessa. Em vez das bacias serem alimentadas pelos afluentes, nós começamos a pegar na calha principal e tentar trazer água para os afluentes. Esse é um processo de inversão, e que historicamente tende a tornar o São Francisco cada vez um rio mais fraco”, avalia.

A obra da Copasa vai levar água até a cidade de Montes Claros, que tem mais de 400 mil habitantes, e é a maior da região norte de Minas, ao custo de R$ 300 milhões. A Copasa minimiza os impactos apontados pelos ambientalistas e alega que o trecho do Rio São Francisco tem vazão suficiente para abastecer as cidades mineiras, segundo o diretor da companhia, Luiz Lobo.

“Não há risco nenhum que a captação que a Copasa faça vá provocar algum tipo de assoreamento. O que vai ser captado lá, em torno aí de 600 litros por segundo, é um número muito pequeno em relação à vazão do São Francisco naquele ponto. A vazão é, pelo menos, umas 200, 300 vezes maior do que nós vamos captar lá”, explica.

A estimativa é de que seja necessário chover por pelo menos cinco anos acima das médias históricas para que os reservatórios voltem a ter níveis ideais.

FONTE: CBN

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