Engenheiros na administração: vamos discutir o assunto sem treta?
O exercício de cargos de gestão por engenheiros é sempre motivo de debates acalorados e alvo de muitas críticas por parte de administradores. Mas pesquisas recentes mostram que aproximadamente 60% dos engenheiros graduados há mais de cinco anos passam a ocupar posições de gestão em empresas. Dessa forma, precisam entender o funcionamento do sistema dinâmico e complexo de uma empresa, lidando com trabalhos que envolvem questões legais, financeiras, econômicas e de gerenciamento das pessoas. Foi pensando nisso que os professores do Departamento de Engenharia de Produção da EESC-USP Fábio Müller Guerrini e Edmundo Escrivão Filho, e a doutoranda Daniela Rosim lançaram o livro “Administração para Engenheiros”.
“Os cursos de Engenharia possuem uma disciplina relacionada a Administração Geral. Entretanto, os livros disponíveis possuem um direcionamento para a lógica do administrador de empresas, que baseia-se em uma perspectiva conceitual ampla”, afirma Fábio Guerrini, um dos autores do livro. De acordo com o professor, a lógica de raciocínio dos engenheiros pede a compreensão não só do pensamento administrativo, mas também dos mecanismos que permitem a visualização da aplicação de tais princípios.
Entre os temas abordados no livro estão o layout de fábricas, a diversidade de configurações das instituições, as especificidades da pequena empresa, além dos contextos culturais nos quais as teorias surgiram.
Administradores x Engenheiros
Para o professor Guerrini, o exercício de atividades administrativas por parte de engenheiros não pretende substituir um profissional em detrimento de outro. “Cada área possui suas competências, habilidades e regulamentações profissionais. As empresas reconhecem que uma gestão bem sucedida, direcionada para a inovação de processos, produtos e soluções organizacionais, depende da articulação de profissionais com diferentes formações”, explica. Ele defende que o problema de natureza administrativa “precisa ser inserido em um contexto mais amplo” e que a interação da competências complementares de administradores, engenheiros e demais profissionais é “fundamental para que isso ocorra”.
Administração está em tudo
Guerrini acredita que os cursos superiores têm reconhecido que as habilidades gerenciais precisam ser desenvolvidas em todos os profissionais. Mas destaca que as graduações que formam profissionais com um perfil mais empreendedor precisam observar quatro questões que os diferentes contextos da Administração devem responder: o que deve ser feito, o que pode ser feito, o que deseja ser feito, e o que será feito.
A primeira questão é dirigida a uma oportunidade de negócio ou à competição. Ao buscar a reposta a essa questão encontra-se o conceito de negócio, que é um conceito econômico em sua essência. Um negócio está associado a uma ideia ou oportunidade que o empresário percebeu e a partir disso, buscará os meios para viabilizá-la.
Já a segunda questão trata de funções empresariais. É nela que entra o conceito de empresa, que é um conceito administrativo. A empresa representa os meios para viabilizar negócio, por parte do empresário.
Na terceira questão encontra-se o conceito jurídico de empresário, que é detentor dos recursos financeiros para viabilizar a empresa enquanto uma entidade jurídica, como meio de realizar o negócio. Para Guerrini, é importante, neste caso, não confundir empresário com a figura do empreendedor. “Um empreendedor pode ter a ideia do negócio, mas nem sempre possui os recursos financeiros para viabilizá-lo. Neste caso, ela procura um sócio, detentor do capital, para viabilizar a empresa. Um empreendedor pode ser o empresário também na medida em que ele for também o detentor dos recursos para viabilizar o empreendimento”, explica o professor.
Por fim, a quarta questão relativa ao que “vamos fazer” é dirigida por integração e unidade, no sentido de coordenar esforços de várias pessoas para atingir um objetivo comum. Ao buscar a reposta a essa questão encontra-se o conceito de Administração que faz a Organização funcionar com vistas ao empresário, empresa e negócio.
O livro
O livro “Administração para Engenheiros” aborda a formação e o desenvolvimento das modernas teorias administrativas e está organizado em conhecimento (texto teórico), compreensão (questões dissertativas), aplicação (exercícios), reflexão e síntese (estudos de caso). Segundo o autor, a estrutura de cada capítulo se baseia na apresentação dos princípios do pensamento administrativo, porém com seções específicas que discutem a sua aplicação na realidade das pequenas e médias empresas.
A obra se distingue de um livro texto de caráter geral pois se baseia na aprendizagem ativa. “O objetivo é que o leitor seja estimulado a pensar por conta própria, a integrar informações e conceitos de diferentes áreas do conhecimento. Os benefícios deste livro para o futuro engenheiro dizem respeito ao conhecimento teórico, compreensão das relações entre as teorias, aplicação em situações cotidianas, reflexão teórica a partir de problemas de natureza administrativa e a síntese para o diagnóstico da situação”, afirma Fábio Guerrini.
Fonte: Administradores