Setor da construção prevê recuperação lenta em 2018
“Corremos o risco de ter clientes e não fechar negócio devido a falta de financiamento”, disse
O setor da construção civil deve fechar o ano com retração em torno de 6% e prevê para 2018 uma recuperação lenta, insuficiente para compensar o forte tombo de 2017. Em entrevista ao Valor, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, preferiu não revelar um número sobre o desempenho esperado no o ano que vem, mas destacou que a retomada está ligada à adoção de medidas que reduzam a insegurança jurídica, como a definição das regras para distrato (cancelamento de venda de imóvel) e que garantam mais agilidade à liberação de licenças ambientais.
Além disso, na avaliação de Martins, é preciso reforçar o capital da Caixa Econômica Federal para que o banco possa ampliar a carteira de crédito sem descumprir os limites prudenciais definidos por Basileia 3, conjunto de regras que exigem dos bancos um “colchão” de capital para enfrentar crises. “Corremos o risco de ter clientes e não fechar negócio devido a falta de financiamento”, disse.
Dos pontos citados por Martins houve avanço apenas na questão da Caixa. Na semana passada, a Câmara aprovou projeto de lei que permite que o banco possa negociar com o FGTS a troca de dívida com vencimento de até 15 anos por bônus perpétuos (títulos de dívida sem vencimento que, em geral, pagam juro mais alto). A operação deve envolver R$ 10 bilhões.
Por outro lado, segundo Martins, a definição de critérios para os casos de distrato foi deixada de lado pelo governo, porque a prioridade no momento é a Previdência. “O Executivo apoia a medida, mas não será mais a origem dela”, disse o presidente da Cbic, referindo-se ao fato de o governo não encaminhar o assunto ao Congresso. “O governo não quer gastar cartucho com outra coisa que não seja a reforma da Previdência.”
Durante reunião com o presidente Michel Temer, Martins afirmou que sem a redução da insegurança jurídica, que faz com que muitas obras públicas sejam paralisadas, os investimentos privados vão demorar a aparecer, dificultando a retomada do setor. A previsão da Cbic é que a economia registre expansão de 2,5% em 2018, o que está alinhado com o mercado e com as estimativas da equipe econômica. “Nenhum país cresce de forma sustentável sem o investimento como carro-chefe”, disse.
Retração e encolhimento do PIB
Pelos cálculos do empresário, o fato de o setor encerrar 2017 com retração estimada em 6% deve ter impacto de encolhimento de 0,5% no PIB como um todo”. “Não tem como nenhum setor compensar isso.” O segmento, que chegou a representar 10,5% do PIB, agora tem que se contentar com 7,5%. Martins preferiu não informar a estimativa de crescimento para o setor no próximo ano. “Alguma recuperação vai haver”, disse.
Martins contou ainda que, no encontro com Temer, defendeu a manutenção dos critérios para direcionamento dos recursos da caderneta de poupança, o que, segundo ele, o Banco Central teria a intenção de mudar. Além disso, reforçou o discurso da necessidade de medidas que diminuam a insegurança jurídica.
Lembrou que até 2014 não havia problemas de recursos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas boa parte não foi usada, porque muitas das obras não saíram do papel devido à falta de licenças, como a ambiental. “Não justifica ter dinheiro e ele ficar parado”, disse Martins.
FONTE: Observador do Mercado